cari amici, quella che segue è LETTERA PASTORALE che il Vescovo di Bissau, dom José Câmnate na Bissign, ha donato alla nostra Chiesa. Il documento è in lingua portoghese: la sua comprensione risulta difficile, o impossibile, per molti di voi. Ma sono in aumento gli amici di lingua portoghese che seguono questo blog, e che potranno trovare grande giovamento dalle indicazioni che il nostro Vescovo propone. Buona lettura.
Ano Pastoral 2010/2011
BEM FORMAR A CONSCIÊNCIA MORAL, PARA MELHOR TESTEMUNHAR NOSSA FÉ EM CRISTO RESSUSCITADO
Não é difícil constatar como, também na sociedade guineense (e sobretudo nos ambientes citadinos), a consciência moral dos cidadãos dá sinais claros de estar a ficar um tanto ofuscada, ou mesmo pervertida, diante dos novos ambientes em que vivemos desde há já algumas décadas. Como consequência da mentalidade materialista e subjectivista que nos é transmitida por alguns meios de comunicação social e por organismos nacionais e internacionais de carácter político ou económico, deixámos perder bastantes valores da educação tradicional africana e não conseguimos assimilar ou conservar outros valores da chamada “modernidade”, aí incluídos também os valores cristãos.
O resultado é inquietante, sobretudo quando se pensa na construção do nosso destino comum, a curto e médio prazo. Num bom número de famílias e na maioria das Escolas dá-se aos alunos instrução, mas não se dá formação: ensinam-se meios de ganhar dinheiro e de singrar na vida, mas não se ensinam modos de adquirir virtudes. Retiram-se ou estragam-se, para proveito particular dinheiros e outros bens que são propriedade de todos, e as pessoas já se vão habituando a olhar isso como “coisa normal” e até como “esperteza”da parte de quem o faz. Participa-se no negócio da droga, que vai afectar gravemente a saúde de quem a vier a consumir, e acha-se isso “um negócio como qualquer outro” e “um modo de enriquecimento rápido embora arriscado. Por vezes, faz-se ou recomenda-se o aborto com enorme leviandade, como se se tratasse dum simples método de planeamento familiar. Pensando particularmente nos cristãos, verifica-se em muitos deles uma enorme ignorância em matéria de consciência moral: pede-se ou exige-se o acesso aos sacramentos (sobretudo os da Iniciação) mas sem conhecer ou aceitar as exigências morais que isso acarreta.
Em consequência de tudo isto e diante dos problemas morais concretos de nossa vida em sociedade, não é raro ouvir da boca das pessoas tanto a confissão sincera de sua ignorância (“ah, eu não sabia; julgava que estava a agir bem”!), como a afirmação individualista da intocabilidade de todas as consciências (“eu agi segundo a minha consciência e isso me basta; cada qual é o único senhor do seu destino”!).
Diante desta situação, e em sintonia com o parecer do Conselho presbiteral manifestado na sua reunião de 23 de Junho último, pareceu-me conveniente dirigir esta mensagem a todos os cristãos da Diocese, principalmente aos agentes directos da pastoral, e a todos eles convidar para, ao longo do próximo ano pastoral 2010/11, nas suas respectivas comunidades, aprofundarem este tema da formação da consciência moral que possibilite depois um testemunho cristão mais exigente e mais credível na sociedade onde vivemos.
I POR UMA CONSCIÊNCIA MORAL BEM FORMADA:
Bibliografia de base:
- Gaudium et Spes (Vat.II), nn.16-17
- Dignitatis humanae (Vat.II), nº3
- João Paulo II: Enc.Veritatis splendor (1993), nn.54-64
- Catecismo da Igreja Católica (1992), nn.1776-1794
1. Grandeza e fraqueza da consciência moral:
O ser humano recebeu do seu Criador a inteligência, a liberdade, a vontade, a sensibilidade, a consciência e os demais atributos que fazem dele o “rei” do universo. Mas, de todos esses atributos, a primazia está na sua consciência, porque é ela a luz que ilumina e dirige o exercício dos demais talentos. Ela é o espaço sacrossanto de cada indivíduo, onde só ele pode entrar e onde ressoa a voz de Deus. Ela é um juízo da razão humana que, no momento oportuno, ordena ao homem que pratique o bem e evite o mal. Graças a ela, a pessoa humana percebe a qualidade moral dum acto a realizar ou já realizado, permitindo-lhe assumir a respectiva responsabilidade. Quando escuta a sua consciência moral, o homem prudente pode efectivamente ouvir a voz de Deus que lhe fala. Para destacar a importância desta consciência, o célebre cardeal Newman escreveu que ela “é uma lei do nosso espírito, mas que o ultrapassa, que nos dá ordens, que significa responsabilidade e poder” (carta ao duque de Norfolk, 5) e Pascal sintetizou de maneira feliz: ““a consciência é o melhor livro de moral, e aquele que mais devia ser consultado”!
Mas foi sobretudo o Concílio Vaticano II quem destacou a importância da consciência moral de maneira mais incisiva e explícita: “no fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faz isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgado. A consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser“(GS.16).
Entre as criaturas do universo, só ao homem foi concedido este santuário interior. E a sua dignidade está justamente em saber escutar essa voz interior e ser fiel aos seus ditames, que o encaminham para a prática do bem, ou seja, para seguir o que é justo e bom segundo a razão e a lei divina. Esta exigência de “interiorização” por parte do homem é fundamental para o seu recto comportamento na sociedade.
Porém, a consciência moral também revela os seus limites e a sua fraqueza, mostrando-se por vezes incapaz de responder rectamente à voz da lei divina e de dignificar o homem que a possui. Por razões variadas (nomeadamente a realidade do pecado na vida de cada homem e mesmo nas estruturas da sociedade, os interesses de instituições políticas ou económicas, a mentalidade subjectivista e hedonista veiculada por certos meios de comunicação social, uma enorme ignorância a respeito da fé e da moral por parte de muitos cristãos, etc.), assistimos hoje a um certo eclipse das consciências individuais bem formadas bem como à tentativa, mais ou menos explícita, de as silenciar, preferindo-se avançar por outros géneros de comportamento moral à margem de Deus e da lei divina. Estamos hoje numa situação parecida ao que Santo Agostinho chamava o “jejum da luz”. Escreveu ele: “os nossos olhos refazem-se vendo a luz corpórea. Muitos, quando estão às escuras durante muito tempo, ficam fracos quanto à acuidade da vista, e essa fraqueza provém duma espécie de jejum da luz. Os olhos são prejudicados no seu alimento, que é a luz. Fatigam-se com o jejum, debilitam-se, a ponto de não poderem ver depois a própria luz com que se alimentam. E, se a luz continuar a faltar por muito mais tempo, deixam de ver, morre neles de certo modo a capacidade de receber o brilho da luz” (Trat.XIII sobre Ev.de S.João, par.5).
Diante das sugestões variadas que lhe advêm do meio ambiente onde se situa, situações essas muitas vezes fora da “luz de Deus”, a consciência individual é tentada a desabituar-se de escutar a voz de Deus que lhe fala no seu íntimo e a virar-se para “outras vozes” do exterior, longe da verdade e longe de Deus. Nessas alturas, não é a sua grandeza e dignidade que nos aparece, mas sim a sua debilidade e fraqueza. O resultado poderão ser juízos duvidosos (hesitando sobre o caminho certo a escolher) ou mesmo erróneos (enganando-se na escolha moral feita, considerando bem o que é mal ou vice-versa).
Colocados, deste modo, diante da grandeza e ao mesmo tempo da fragilidade da consciência humana, a dignidade humana nos exige que procuremos agir sempre com uma consciência recta e certa (que esteja de acordo com o que é justo e bom segundo a razão e a lei divina) e que respeitemos igualmente a consciência dos outros. Mas, para isso, temos necessidade de formar incessantemente a nossa consciência moral.
2. A necessidade de permanente formação da consciência moral:
O mundo jamais poderá ser humano enquanto cada homem não deixar de espezinhar a própria consciência. Será inútil encher as páginas de leis e de códigos ou encher as ruas de polícias, enquanto a humanidade não for chamada a cultivar a consciência individual. Quem desejar reformar o mundo, deve começar pela reforma da própria consciência. É urgente que se recuperem as consciências, formando-as no seio das famílias, nos grupos paroquiais, nas escolas (sobretudo naquelas que sejam orientadas por nós). E este é um trabalho de toda a vida.
a)- O caminho aberto por S.Paulo:
S.Paulo preocupou-se de maneira especial por formar a consciência moral das comunidades cristãs primitivas por ele fundadas. A análise pormenorizada do caso de consciência que lhe foi posto pelos Coríntios – “pode-se comer a carne sacrificada aos ídolos? – é um exemplo paradigmático de pedagogia moral (1 Cor 8-10). Trabalho idêntico fez ele ao propor o modo de se comportar com os “pouco esclarecidos” em questões de fé e moral (Rm 14). Além destes dois exemplos de formação da consciência moral, há recomendações paulinas directamente orientadas para o trabalho educativo neste campo. Para S.Paulo, os cristãos têm de formar a sua consciência em três aspectos:
- Examinando-se a si mesmos (1 Cor 11,28; 2 Cor 13,5; Gl 6,4)
- Procurando a vontade de Deus (Rm 12,2; Ef 5,10)
- Ponderando o que mais convém em cada momento ((Fl 1,10)
Esta tríplice recomendação, em vista dum conveniente discernimento, continua ainda válida para nós, hoje.
b)- A necessidade de agir com uma consciência certa e recta:
A vocação do ser humano é cumprir a vontade de Deus, que nos é indicada pela consciência. Mas, em cada momento concreto, nem sempre se conhece facilmente qual será a vontade de Deus. E, em caso de não estarmos seguros, expomo-nos a agir contra o que Deus quer e arriscamo-nos a pecar.
Por isso, no discernimento da moralidade dum acto, é necessário agir sempre com a consciência certa e recta, ou seja, com a segurança de que a moralidade desse acto é justamente como a consciência no-lo apresenta, em sintonia com a lei moral inscrita em nosso coração. A pessoa não poderá deixar-se ficar apenas numa consciência “duvidosa”, hesitando na decisão a tomar, sem saber qual juízo formar com segurança; e, muito menos ainda, a pessoa não poderá deixar-se conduzir por juízos “erróneos”, em que o juízo moral não se ajusta à lei moral, em que aquilo que toma por bem é objectivamente mal e vice-versa.
É certo que nos juízos erróneos nem sempre o mal é imputável à pessoa que os emite se esta, por ignorância invencível, não teve verdadeiramente nenhuma possibilidade de vencer o erro respectivo; e isso acontece efectivamente em vários casos em que a pessoa não teve realmente nenhuma oportunidade de formação, embora haja certos princípios básicos da moral que é impossível alguém ignorar, pois todos os trazemos naturalmente impressos no coração (Rm 2,15). Mas, em muitos outros casos de juízos erróneos que são vencíveis, a pessoa não poderá continuar a escusar-se indefinidamente com a desculpa de que “ eu não sabia que estava a agir mal”. Pelo contrário, terá de se esforçar por ultrapassar esses erros de consciência com a conveniente formação que está ao seu alcance, evitando a “ignorância afectada”, que prefere “não ficar a saber” para poder agir com maior liberdade e menos peso na consciência! E evitar sobretudo a consciência “voluntariamente deformada”, em que a pessoa não ignora a verdade, mas tenta deformá-la, mentindo-se a si mesmos e tentando mentir a Deus; neste caso, fazem literalmente o que já dizia S.Paulo nos inícios do cristianismo: “virá um tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si, apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas” (2 Tim 4,3-4).
Em síntese e como forma de orientação geral, há três normas fundamentais que a consciência sempre deverá respeitar:
- Nunca é permitido fazer o mal para que daí se obtenha um bem.
- A chamada “regra de ouro”: tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho vós também” (Mt 7,12).
- Actuar sempre respeitando o próximo e a sua consciência, embora isto não signifique aceitar como um bem aquilo que objectivamente seja um mal.
c)- Os meios para a formação da consciência moral:
Para a conveniente formação de nossa consciência moral, de modo a que ela seja o mais possível certa e verdadeira, podemos felizmente lançar mão de vários recursos ao nosso alcance, nomeadamente:
- antes de mais, ler e meditar a Palavra de Deus (a Bíblia e especialmente o Novo Testamento), onde se contém a doutrina e a lei do Senhor, acolhendo-a com fé e fazendo oração sobre ela: uma reflexão pausada e fervorosa que permita assimilá-la bem; se possível dedicando a essa meditação tão salutar, no mínimo uns dez ou quinze minutos por dia. Ela é “inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça” (2 Tm 3,16).
- depois, fazer diariamente um exame de consciência. No final do dia, antes de nos recolhermos para o descanso da noite, paremos uns minutos, situemo-nos com fé na presença de Deus que nos vê e nos ouve e façamos um balanço cheio de sinceridade: “o que fiz bem, o que fiz mal, o que poderia ter feito melhor”. Quem for constante nessa prática, irá adquirindo uma finura e lucidez de consciência cada vez maiores; deixará de viver na nebulosa da inconsciência para se abrir cada vez mais à luz de Deus.
- igualmente, devemos rezar: pedir os dons do Espírito Santo. Quando uma alma é sincera, cheia de fé e generosidade, então com frequência recebe no entendimento a claridade de Deus por meio dos dons do Espírito Santo (dom de sabedoria, de entendimento, de ciência e outros), que lhe inspiram um juízo moral luminoso e certo.
- também: procurar ajuda nos conselhos de outros: na formação da consciência, é de grande ajuda o saber consultar um amigo bem formado (um bom cristão, um catequista ou um professor idóneos, um sacerdote). Para muitas pessoas, a melhor garantia de manter sempre a “boa voz” da consciência é o hábito de se confessarem periodicamente (por ex. mensalmente) e de terem com o sacerdote uma conversa de orientação espiritual.
- e, finalmente, deixar-se guiar pelo “ensinamento autorizado da Igreja”: a nossa consciência pode errar, a sua voz pode emitir uma nota falsa. Mas a voz de Deus, não. E essa voz de Deus deixa-se escutar com clareza, sem sombras nem deturpações, no ensinamento autorizado do Magistério da Igreja: “quem vos ouve, a mim ouve; quem vos rejeita a mim rejeita” (Lc 10,6) – dizia Cristo a Pedro e aos Apóstolos que com ele estavam, bem como aos seus sucessores no tempo. Por isso mesmo, é tão importante conhecer bem o que a Igreja, em nome de Deus e assistida por Deus, ensina em matérias de moral! De particular importância, a este respeito, é a Encíclica “O esplendor da Verdade” (VS), publicada por João Paulo II em Agosto de 1993. Nela se afirma: “por vontade de Cristo, a Igreja Católica é mestra da verdade e tem por encargo dar a conhecer e ensinar autenticamente a Verdade que é Cristo, e ao mesmo tempo declara e confirma, com a sua autoridade, os princípios de ordem moral que dimanam da natureza humana. Portanto, a autoridade da Igreja, que se pronuncia sobre questões morais, não lesa de modo algum a liberdade de consciência dos cristãos: não apenas porque a liberdade da consciência nunca é liberdade “da” verdade, mas sempre e só “na” verdade, mas também porque o Magistério não apresenta à consciência cristã verdades que lhe sejam estranhas, antes manifesta as verdades que ela já deveria possuir, desenvolvendo-as a partir do acto originário da fé. A Igreja coloca-se sempre e só ao serviço da consciência, ajudando-a a não se deixar levar cá e lá por qualquer sopro de doutrina, ao sabor da maldade dos homens” (VS.nº64).
II. PARA UM TESTEMUNHO CRISTÃO E CREDÍVEL
São bem conhecidas as palavras do Papa Paulo VI, em 1975, quando afirmou: “para a Igreja, o testemunho duma vida autenticamente cristã, entregue nas mãos de Deus, numa comunhão que nada deverá interromper e dedicada ao próximo com zelo sem limites, é o primeiro meio de evangelização. O homem contemporâneo escuta
com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (Evangelii Nuntiandi, nº 41.). O Papa João Paulo II repeti-las-ia em 1990, a propósito do testemunho como primeira forma de evangelização (Redemptoris missio, nº42).
É deste testemunho que agora queremos tratar, em referência sobretudo à sociedade guineense, de que fazemos parte. A sociedade guineense precisa do testemunho cristão credível dos cristãos. Ser testemunha da fé em Cristo ressuscitado é alguém que, pela sua vida, palavras e obras (e, se necessário, pelo sacrifício de sua própria vida) revela e confessa a presença de Cristo na sua vida e no mundo. Jesus Cristo deixou aos seus discípulos a missão de serem “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-16), continuando pelos séculos fora a anunciar a boa-nova do reino de Deus e a curar, purificar, perdoar e ressuscitar, em seu nome (Mt 10,7-8) e sendo suas testemunhas até às extremidades da terra (Act 1,8).
Então, testemunhar Jesus Cristo ressuscitado, hoje, é torná-lo presente na sociedade e nas pessoas concretas com quem vivemos, e permitir que Ele continue aí a sua obra de salvação plena. Mas ninguém poderá ser testemunha credível de Jesus, o Salvador por excelência, sem uma consciência moral bem formada, como atrás indicámos: sabendo identificar os desafios maiores da sociedade em que vive e enfrentando-os com a coragem e a “luz” duma consciência recta e verdadeira.
1. A consciência bem formada diante de alguns desafios da sociedade guineense actual:
O testemunho cristão não tem, naturalmente, qualquer limitação no referente ao momento em que deve ser dado. Ele deve acontecer sempre e em cada hora do nosso dia, conforme os problemas concretos da sociedade nos vão desafiando. Apesar de tudo, há seguramente alguns domínios sociais mais sensíveis ou urgentes, onde o testemunho credível dos cristãos se torna mais necessário e premente.
Por isso mesmo, eu gostaria agora de incentivar e desafiar todos os cristãos, sobretudo os agentes de pastoral, a, nas suas comunidades respectivas, aproveitarem o próximo ano pastoral 2010/11para reflectirem sobre os domínios concretos que mais exigirão o testemunho de nossa consciência moral bem formada, no actual momento sócio-religioso da Guiné-Bissau.
O inventário desses domínios concretos irá seguramente variar, conforme as situações das diferentes regiões ou instituições do país; mas é natural que, nas reuniões locais a fazer, rapidamente aflorem também algumas preocupações comuns.
Apenas a título de exemplo, e como incentivo para as reuniões das diferentes comunidades da Diocese, interroguemo-nos sobre o seguinte:
a)-no campo político:
- A pobreza, a instabilidade e a suspeição mútua em que vivemos no nosso país, residem nos males que conhecemos. Mas, em verdade, estaremos nós dispostos a identificar e eliminar esses males? Por exemplo:
- O “suco di bás”, sem o qual muitos processos burocráticos não avançam, que atitude moral merece da parte dos cristãos?
- Porque é que há tanta desconfiança entre as pessoas, no nosso país?
- Diante do facto de na Guiné-Bissau os julgamentos por indícios de corrupção quase nunca chegarem ao fim, qual será a atitude moral mais aconselhável para um cristão?
- Uma das causas da nossa situação actual foi a eliminação física dos adversários políticos. Esta prática será moralmente justa? Em caso negativo, como proceder hoje para não considerarmos os adversários políticos como inimigos a abater?
- Outra das causas de nossa situação actual é o abuso injustificado da força e do poder. Como fazermos para que o poder e a força sejam instrumentos para a promoção da justiça, da reconciliação e da paz?
- Etc. ….
b)- no campo sócio-económico:
- Poderá um cristão bem formado danificar ou furtar os bens públicos, apenas para seu proveito pessoal ou de sua família?
- O costume generalizado, na Guiné-Bissau, de não revelar de modo algum o nome de quem delapidou ou furtou os bens públicos, será um costume moralmente intocável?
- Não pensando apenas em militares e políticos, mas também em círculos mais específicos e cada vez mais alargados (ex. religiões de diferentes credos, escolas, bairros, famílias...), que ajuda material e moral poderão dar para o melhoramento das condições de vida e consequentemente para a promoção da paz?
- Etc. …
c)- no campo eclesial: dignificação das famílias cristãs:
- Se o matrimónio cristão é uma vocação e um sacramento, será moralmente aceitável que a enorme maioria dos cristãos ache normal não o realizar, ou então realizá-lo apenas ao fim de muitos anos de convivência real?
- As poucas famílias cristãs existentes na Diocese não terão também elas a sua parte de responsabilidade moral sobre o modo como os jovens olham para as relações pré-matrimoniais e para a necessidade do casamento religioso?
- Que aspectos dos “usos e costumes” do casamento tradicional guineense nos parecem moralmente positivos e assumíveis também pelos cristãos?
- Etc. …
2. O trabalho que agora se espera para o ano pastoral 2010/2011
Estes três domínios concretos, aqui deixados, onde mais se faz sentir a necessidade de consciências morais bem formadas, são apenas três exemplos possíveis e o abrir de caminho para as reuniões necessárias que hão-de ser feitas nas diferentes comunidades cristãs de nossa diocese ao longo do próximo ano pastoral. O importante é que essas reuniões se façam e possam contribuir para um testemunho mais exigente e mais perfeito de cada um de nós, fruto da “luz” orientadora de nossa consciência bem formada. O trabalho de aperfeiçoamento desta consciência é um trabalho de toda a vida, e um cristão deve tentar “ser perfeito como o Pai que está nos céus” (Mt 5,48).
Para todos vós, a minha bênção de pastor e os meus votos sinceros dum bom “novo ano pastoral”!
Bissau, 28 de Setembro de 2010
† José Câmnate na Bissign
(Bispo de Bissau)
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